Setor produtivo e centrais sindicais criticam manutenção da Selic em 15% ao ano

08/01/2025

01:56:07 PM

CIDADE

Foto: José Cruz/Agência Brasil


Entidades afirmam que juros elevados sufocam a economia, desestimulam o consumo e comprometem o crescimento do país


A manutenção da Taxa Selic em 15% ao ano, anunciada nesta semana pelo Comitê de Política Monetária (Copom), provocou reações negativas de entidades da indústria, do comércio e de centrais sindicais. Para representantes do setor produtivo, a decisão do Banco Central é “equivocada” e ameaça a retomada do crescimento econômico, o investimento e a geração de empregos.


O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, classificou a decisão como “insuficiente e equivocada”, e afirmou que os juros altos vão continuar sufocando a economia. Alban também criticou medidas recentes do governo, como o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e as novas tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros.


“Já tivemos o aumento do IOF sobre as operações de crédito e câmbio e a elevação das tarifas dos EUA sobre as nossas exportações. A alta do IOF sobre o crédito vai aumentar em R$ 4,9 bilhões o custo para as indústrias, enquanto as tarifas dos EUA podem causar queda na produção industrial e a perda de milhares de empregos no país. O momento pede uma política monetária mais favorável. Precisamos de menos juros e mais crescimento”, afirmou Alban.



Comércio vê impacto no consumo e no crédito


A Associação Paulista de Supermercados (Apas) também demonstrou preocupação com o atual patamar dos juros. Para a entidade, a taxa de 15% ao ano compromete o consumo das famílias e encarece o crédito, afetando diretamente a atividade econômica.


“O Brasil tem uma das maiores taxas reais de juros do mundo. A manutenção da Selic nesse nível prejudicará os investimentos, o consumo das famílias; aumentará o custo do crédito e afetará diretamente o nível de atividade econômica do país”, alertou o economista-chefe da Apas, Felipe Queiroz.


Já a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) avaliou que a decisão do Copom veio em linha com as expectativas do mercado, mas reconheceu que os juros elevados pesam sobre o setor produtivo. A entidade justificou a manutenção da Selic diante da inflação ainda acima da meta de 4,5% ao ano, além da expansão fiscal e das incertezas externas.


“Apesar da desaceleração gradual da atividade econômica interna e da valorização do real, que tendem a diminuir a pressão sobre os preços, a inflação acumulada se mantém muito acima da meta anual. Isso justifica uma política monetária mais cautelosa”, explicou o economista Ulisses Ruiz de Gamboa, da ACSP.



Centrais sindicais falam em penalização dos trabalhadores


A decisão também recebeu duras críticas das centrais sindicais. Para a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o Banco Central mantém uma política que transfere recursos do setor produtivo e dos consumidores para o sistema financeiro.


“O Banco Central diz que tem que manter a taxa de juros alta para controlar a inflação. Mas a Selic elevada não resolve o tipo de inflação que enfrentamos. O que faz é penalizar a população e manter o Brasil na liderança dos maiores juros do mundo”, afirmou Juvandia Moreira, presidenta da Contraf-CUT e vice-presidenta da CUT.


A Força Sindical também se manifestou em tom de protesto. Para o presidente da entidade, Miguel Torres, o momento seria ideal para uma redução significativa da Selic, especialmente diante do desaquecimento da economia global.


“Lamentamos e consideramos absurdo manter a taxa em patamar tão elevado. O Banco Central perdeu uma ótima oportunidade de estimular a economia, gerar empregos e incentivar a produção nacional”, declarou Torres.

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